Você atende um paciente vítima de agressão por arma de fogo no tronco. Você colocaria um colar cervical? Pense na sua resposta e tire as suas conclusões ao final do nosso texto.
O que diz o PHTLS 9ª edição?
Com relação a RMC, estes são os princípios:
- Os termos RMC, imobilização da coluna e estabilização da coluna são intercambiáveis.
- A abordagem da RMC é seletiva, mas não defende a remoção de todas as pranchas longas.
- A imobilização da coluna pode causar efeitos colaterais: dificuldade de abordagem das vias aéreas, esforço respiratório, isquemia cutânea e dor.
- O objetivo é reconhecer as indicações para RMC.
- RMC deve ser considerada quando há um mecanismo de lesão contuso (fechado)
No trauma contuso, devemos considerar as seguintes situações:
- Mecanismo de trauma com impacto de grande energia na cabeça, pescoço, tronco, pelve e na coluna vertebral (figura 1).
- Incidentes que produzam aceleração súbita, desaceleração brusca e forças de inclinação lateral repentinas ao pescoço e tronco.
- Qualquer queda de altura, especialmente em idosos.
- Ejeção ou queda de qualquer dispositivo de transporte em movimentação.
- Qualquer incidente de mergulho em águas rasas.
- Dano significativo ao capacete (figura 2).
Abaixo, seguem as indicações para RMC no trauma contuso:
- Alteração do nível de consciência (Escala de coma de Glasgow < 15)
- Dor ou hipersensibilidade na coluna
- Queixa ou déficit neurológico
- Deformidade da coluna
- Evidência do uso de drogas ou álcool
- Lesão de distração (ex: fratura de ossos longos)
- Incapacidade de comunicação com clareza (ex: criança, língua estrangeira, idoso com déficit cognitivo ou frágil, etc.)
O Trauma penetrante da cabeça, pescoço ou tronco NÃO tem indicação de RMC, a menos que haja um mecanismo secundário de lesão ou sinais de sinais e sintomas de injúria medular. Nessa situação, outras lesões são prioridade no atendimento, principalmente o choque hemorrágico. Se o paciente não tiver sofrido uma lesão neurológica no momento do trauma, é pouco provável que ela aconteça posteriormente ao atendimento.
Na sequência, o fluxograma original de indicação de RMC do PHTLS 9ª edição.
Como foi elaborado o protocolo de RMC do SAMU de Belo Horizonte?
A partir dessas novas diretrizes do PHTLS, o SAMU de Belo Horizonte construiu um protocolo de RMC vertebral com as seguintes etapas:
- Foi realizada a busca na literatura das melhores evidências sobre o tema.
- Análise crítica dos estudos.
- Construção de um fluxograma de decisão para indicação ou não de RMC vertebral.
No protocolo, as Indicações de RMC são:
Vítimas de trauma que apresentarem ao menos uma das seguintes características: instabilidade na avaliação primária, idade maior que 65 anos, presença de dor em coluna, déficit de consciência, déficit sensitivo ou motor, deformidade na coluna, distração, dinâmica do trauma significativa.
O quadro 1 do artigo original descreve os critérios de decisão de RMC do SAMU de Belo Horizonte.
- O PHTLS 9ª edição fala sobre princípios e preferências da RMC.
- O princípio da RMC foi mantido no protocolo do SAMU de Belo Horizonte.
- A preferência por uma linguagem própria do serviço (2 I´S e 6 D´S) não comprometeu o princípio da RMC proposto pelo PHTLS.
Mensagens para levar…
TRAUMA PENETRANTE: a RMC NÃO é necessária.O transporte deve ser rápido, pois o choque hemorrágico é a principal causa de morte.
TRAUMA CONTUSO: a RMC pode ser seletiva, desde que o serviço depré-hospitalar disponha de organização e protocolo.
Referências bibliográficas:
- PHTLS, Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado, 9ª edição, Jones andBartlett Learning, 2021.
- GonçalesP. C., AntunesL. S. S., MoraisD. A., MoraesC. M. G. de, FernandesA. C. B. C., &SouzaK. M. de. (2021). Construção de um protocolo de restrição de movimento de coluna (RMC) vertebral: relato de experiência. Revista Eletrônica Acervo Saúde, 13(8). Link para o artigo: https://doi.org/10.25248/reas.e8021.2021
- Velopulos, Catherine G. MD, MHS; Shihab, Hasan M. MPH; Lottenberg, Lawrence MD; Feinman, Marcie MD; Raja, Ali MD, MBA, MPH; Salomone, Jeffrey; Haut, Elliott R. MD, PhD Prehospitalspineimmobilization/spinalmotionrestriction in penetrating trauma: A practice management guidelinefromthe Eastern Association for theSurgeryof Trauma (EAST), Journalof Trauma andAcuteCareSurgery: May 2018 – Volume 84 – Issue 5 – p 736-744.
Link para o artigo: 10.1097/TA.0000000000001764 - Peter E. Fischer, Debra G. Perina, Theodore R. Delbridge, Mary E. Fallat, Jeffrey P. Salomone, JimmDodd, Eileen M. Bulger& Mark L. Gestring (2018) Spinal Motion Restriction in the Trauma Patient – A Joint Position Statement, PrehospitalEmergencyCare, 22:6, 659-661.
Link para o artigo:10.1080/10903127.2018.1481476
NOTA IMPORTANTE: a utilização das recomendações desse texto não substitui o estudo e o treinamento prévio do profissional de APH no atendimento e tratamento do trauma. Esse material não se encaixa em revisão da literatura ou protocolo. Mantenha-se atualizado com a literatura sobre o assunto e com os protocolos do seu serviço de APH. As imagens são do arquivo pessoal do autor do artigo.