Ácido tranexâmico no pré-hospitalar: do PHTLS à implantação na prática pelo SAMU de Belo Horizonte

Introdução: Bruno de Freitas Belezia, cirurgião geral 

INTRODUÇÃO  

O PHTLS na sua 9ª edição em português, página 82, aborda o tópico sobre a utilização do ácido tranexâmico no paciente com choque hemorrágico. A janela de administração é de 3 horas a partir do evento traumático. Pondera que a maioria de serviços de atendimento pré-hospitalar é urbano e tem resposta rápida.  

ÁCIDO TRANEXÂMICO NO PRÉ-HOSPITALAR SAMU-BH 

O ácido tranexâmico é um anti-fibrinolítico já tradicionalmente utilizado em pacientes com coagulopatias e no controle de sangramentos em cirurgias. No trauma o estudo CRASH 21, publicado no ano de 2010, evidenciou o benefício desta medicação na redução da mortalidade em pacientes com quadro de hemorragia e foi importante para que o uso da droga fosse amplo no atendimento hospitalar inicial do paciente vítima de trauma. 

O estudo WOMAN2 publicado em 2017 mostrou que o ácido tranexâmico é capaz de reduzir as mortes por hemorragia em mulheres com hemorragia pós-parto, o que fez com que a Organização Mundial de Saúde o incluísse na lista de medicamentos essenciais para o atendimento às puérperas. 

Publicado em 2019 o estudo CRASH 33 identificou o que o ácido tranexâmico foi capaz de reduzir a mortalidade em pacientes com traumatismo crânio-encefálico (TCE), o que foi observado em especial nos casos de TCE leve e moderado.  

Os três estudos, ensaios clínicos randomizados, multicêntricos se destacam pelo número de participantes incluídos, e nos três trabalhos não foram observados número significativo de eventos adversos, sendo o ácido tranexâmico considerado uma medicação segura para uso em pacientes com quadros de hemorragia. 

Meta análise publicada em 20184, com análise de dados de 40138 pacientes, concluiu que o ácido tranexâmico deve ser administrado o mais precocemente possível para o controle da hemorragia, uma vez que a cada 15 minutos de atraso na aplicação da medicação foi associado a uma redução de 10% do benefício potencial da droga. Os achados deste estudo juntamente aos resultados do estudo CRASH 21 e WOMAN2, que identificaram que a medicação deve ter sua primeira dose administrada em até 3 horas da ocorrência do trauma ou do parto, sugerem que o uso da medicação no atendimento pré-hospitalar, ainda na cena, pode ser importante para o controle precoce da hemorragia e na redução da mortalidade, e pesquisas vêm sendo realizadas para avaliar esse impacto. 

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de Belo Horizonte (SAMU/BH) passou a utilizar a medicação para pacientes vítimas de trauma, TCE e mulheres com quadro de hemorragia pós-parto. A medicação será utilizada considerando as recomendações da literatura e da Organização Mundial de Saúde. Pacientes vítimas de trauma com sinais de choque, hemorragia não compressível ou com TCE isolado, cujo a avaliação pela Escala de Coma de Glasgow evidencie TCE leve ou moderado, e ainda, mulheres com quadro de hemorragia pós-parto vaginal, identificada pelas estimativas visuais da perda e presença de sinais de choque receberão a medicação. A droga será administrada caso o trauma ou nascimento do bebê tenha ocorrido em até 3 horas antes do momento do atendimento.   

REFERÊNCIAS: 

  1. ROBERTS, I. et al. The CRASH-2 trial: a randomised controlled trial and economic evaluation of the effects of tranexamic acid on death, vascular occlusive events and transfusion requirement in bleeding trauma patients. Health Technol Assess, v. 17, n. 10, p. 1-79, 2013. 

Link para o artigo: DOI: 10.3310/hta17100  

  1. SHAKUR, Haleema et al. Effect of early tranexamic acid administration on mortality, hysterectomy, and other morbidities in women with post-partum haemorrhage (WOMAN): an international, randomised, double-blind, placebo-controlled trial. The Lancet, v. 389, n. 10084, p. 2105-2116, 2017. 

Link para o artigo: DOI: 10.1016/S0140-6736(17)30638-4 

  1. CRASH, The et al. Effects of tranexamic acid on death, disability, vascular occlusive events and other morbidities in patients with acute traumatic brain injury (CRASH-3): a randomised, placebo-controlled trial. The Lancet, v. 394, n. 10210, p. 1713-1723, 2019. 

Link para o artigo: DOI: 10.1016/S0140-6736(19)32233-0 

  1. GAYET-AGERON, Angèle et al. Effect of treatment delay on the effectiveness and safety of antifibrinolytics in acute severe haemorrhage: a meta-analysis of individual patient-level data from 40 138 bleeding patients. The Lancet, v. 391, n. 10116, p. 125-132, 2018. 

Link para o artigo: DOI: 10.1016/S0140-6736(17)32455-8 

IMAGEM DO CABEÇALHO: 

https://www.medpagetoday.com/surgery/generalsurgery/92087

Picture of Cíntia Maria Guedes de Moraes
Cíntia Maria Guedes de Moraes
Mestre em enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais Especialista em urgência, emergência e terapia intensiva Enfermeira do SAMU de Belo Horizonte

Gostou do Conteúdo? Compartilhe...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Últimas Postagens

Cursos

Prehospital Trauma Life Support PHTLS®

Point Of Care Ultrassonografia POCUS

Artigos Relacionados

Acompanhe diversos assuntos relacionados aos Profissionais da Saúde

Aguarde as próximas Turmas PHTLS e POCUS

Faça sua Pré-inscrição

Vagas abertas para a Formação PHTLS

Dias 30 e 31 de AGOSTO
Em Belo Horizonte

Faça sua Pré-inscrição!