Em dezembro de 2010 aconteceu um acidente automobilístico na BR 259, entre os KM 503 e 505, no Município de Presidente Juscelino MG, onde foram a óbito 4 pessoas: 3 crianças e 1 idoso.
Nesse trecho da BR eram frequentes acidentes com vítimas fatais, pois as curvas são acentuadas e os veículos trafegavam em velocidade elevada. (Figuras 1 e 2)
À época do acidente, o município já havia implantado um atendimento pré-hospitalar básico.
Após o acidente, parei para refletir no que poderia ser feito para evitarmos tantos acidentes fatais. O atendimento pré-hospitalar, por melhor e mais rápido que fosse realizado, somente atuaria após a ocorrência e teria um alcance limitado na prevenção de mortes e sequelas.
Como método de prevenção primária pensei em solicitar a instalação de placas de advertência antes das curvas onde ocorriam os acidentes. Um dificultador era a sinalização das vias ser uma responsabilidade do Departamento de Estrada e Rodagem (DER).
Dirigi-me ao DER, situado na cidade de Curvelo, e procurei o responsável pela sinalização. No dia seguinte ao contato, ele me procurou na cidade de Presidente Juscelino e visitamos o trecho dos acidentes.
O fiscal do DER orientou que seria necessária a redação de um ofício contextualizando sobre a necessidade de melhorias na sinalização de advertência na região das ocorrências. Entrei em contato com o prefeito de Presidente Juscelino, que me encarregou de redigir o ofício a ser encaminhado ao DER.
Após 11 meses do encaminhamento do ofício e após várias cobranças, o nosso pedido foi atendido:
- Uma placa de advertência: “Atenção trecho com alto índice de acidentes. Velocidade 50 km”. (Figura 3)
- Instalação de um guardrail. (Figura 1)
No local das intervenções, o número de acidentes e óbitos vem sendo monitorado anualmente através dos dados disponíveis no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), Sistema de Informação de Internação Hospitalar (SIH) e Boletins de ocorrência de acidentes. Abaixo, seguem os resultados da monitorização das ocorrências do KM 503 ao 505 da BR 259:
- Antes da intervenção, 2006 até maio de 2012: 18 vítimas fatais em consequência de colisões. Algumas com óbito imediato e outras no intra-hospitalar, em decorrência de complicações do trauma.
- Após a intervenção, junho de 2012 até os dias de hoje (05/09/2024): ausência de vítimas fatais.
A minha sensibilização e a atuação proativa como socorrista na promoção da prevenção primária possibilitaram o fim das mortes e a diminuição das sequelas nas vítimas de acidentes automobilísticos nesse trecho sabidamente perigoso. Com isso, os custos pré-hospitalares, hospitalares e previdenciários decorrentes dos traumas também foram reduzidos.
A prevenção primária é a mais barata: educa o motorista, reduz o número de acidentes e de vítimas, preservando a saúde e a qualidade de vida.
Renata Castro Santos
É enfermeira assistencial do SAMU de Curvelo, graduada pela Universidade de Taubaté.
Coordenadora da Atenção Primária à Saúde no Município de Presidente Juscelino.
Pós-Graduada em Educação Profissional na Área de Saúde (FIOCRUZ), Auditoria Em Sistemas de Saúde (Fac. São Camilo), Enfermagem em Emergência (Fac. São Camilo) e Estratégia Saúde da Família (UFMG).
Representou a cidade de Presidente Juscelino, Minas Gerais, em 3 Congressos Nacionais de Secretários Municipais de Saúde, onde levou experiências exitosas implantadas no seu município de atuação. Foi premiada em 2019, honra concedido apenas para 12 trabalhos nacionais.
Ministra palestras sobre diversos temas relacionados à saúde para população em geral, ensino superior e técnico
Comentários de Bruno de Freitas Belezia, diretor do núcleo do PHTLS MG
O atendimento pré-hospitalar propiciado pelo socorrista é considerado prevenção terciária, que custa muito mais caro e tem um limite na prevenção de mortes e sequelas.
A prevenção primária, estratégia adotada por nossa ex-aluna Renata, é o que o PHTLS espera que todo socorrista reflita e passe a agir proativamente.
A partir de ações concretas, o socorrista mobiliza as autoridades da sua região, para que intervenções de baixo custo e de alta eficácia sejam implementadas em locais de alta incidência de acidentes, possibilitando a redução da morbidade e mortalidade das vítimas de trauma.
A equipe do PHTLS, núcleo de MG, parabeniza a enfermeira Renata pelo brilhante trabalho profissional.
Que o seu exemplo seja seguido por muitos outros socorristas!